É impossível dizer que inteligência artificial não é o tema da moda. Dessa forma genérica mesmo. Não dizem mais “machine learning”, por exemplo, que é o termo que alguns se utilizavam para parecer mais técnico e poderoso, se diferenciando daqueles que falavam “utilizamos inteligência artificial para X ou Y”, mas nem sabiam do que estavam falando.

Isso tudo por conta de uma empresa chamada OpenAI, que criou o ChatGPT, o mais novo efeito disruptivo mundial que está transformando a evolução tecnológica de forma exponencial. No final do ano passado, os especialistas em I.A. diziam que estávamos muito longe de criar uma I.A. generativa, mas “do nada”, eis que surge o ChatGPT com suas respostas confiantes e às vezes (muitas) erradas.

Inteligência artificial generativa ou IA generativa é um tipo de sistema de IA capaz de gerar texto, imagens ou outras medias em resposta a solicitações em linguagem comum https://pt.wikipedia.org/wiki/Intelig%C3%AAncia_artificial_generativa

Debates

Para entender a demanda gerada por essa “aparição”, só nesta última semana participei de dois grandes eventos do mercado do entretenimento para debater sobre o mesmo assunto: “Inteligência artificial e o mercado da música”. No Trends Brasil Conference que aconteceu em São Paulo, compartilhei o palco com o diretor da ONErpm, Arthur Fitzgibbon; Cris Falcão, diretora geral LATAM da Ingrooves, e, Gabriel Amaral da Som Livre.

Já na Rio2C, que abriu as portas para o mercado musical pela primeira vez, pude trocar ideias com o CEO da strm, Fernando Gabriel e com o embaixador da blockchain Flow, Diego Alcântara.

Em ambos os debates alguns pontos foram bem comuns, como a evolução rápida da tecnologia; a massificação na criação de músicas, desde a criação de letras, instrumental e das vozes; da dificuldade ainda maior em ter seu trabalho encontrado por novos fãs, mas ao mesmo tempo, da criação de oportunidades!

A tecnologia é uma ferramenta que deve ser utilizado como tal, e não por si só. Eu tenho utilizado o ChatGPT e a API da OpenAI para otimizar meus fluxos de trabalho, levando muito menos tempo para fazer as coisas. Esse tempo que “sobra”, pode ser utilizado com mais produção ou para melhorar a qualidade de vida, cada um com sua escolha.

Experimentos

Fiz experimentos com criação de imagens, criação de músicas, criação de algoritmos para criação de imagens e músicas e o que mais me deu resultados foram os experimentos com correção de textos, sumarização de artigos e para automação do suporte na SR.

Destes experimentos, alguns me tomaram mais tempo do que se eu tivesse feito como sempre fiz, buscando no Google, entrando em alguns sites para entender o problema e as possíveis soluções e depois, implementando a minha versão de solução para o problema. A conclusão que chego aqui é que de fato, o ChatGPT é uma ferramenta (por enquanto) e deve ser utilizada no máximo como um estagiário, pois devemos conferir e testar tudo que é produzido por resposta aos nossos estímulos.

Enquanto nós, reles mortais, navegamos e nos surpreendemos com a ponta do iceberg, os pesquisadores de I.A. que estão na crista da onda (ou no fundo do oceano), estão fazendo experimentos de socialização entre I.A.s, utilizando uma inteligência para treinar a outra a ser melhor do que ela própria, criando mecanismos de memória de longo prazo e conectando algumas delas à mecanismos externos a si, como realizar buscas na internet, acessar seus e-mail e responder em seu nome, realizar estratégias de social media de ponta a ponta e mais!

Este é um replay pré-computado de uma simulação que acompanha o artigo intitulado “Agentes Geradores: Simulacros Interativos do Comportamento Humano”. É apenas para fins de demonstração: https://reverie.herokuapp.com/arXiv_Demo/

Direitos

E isso tudo sem contar com os problemas intrínsecos do direito autoral quando se faz uso de material de propriedade intelectual protegido para treinar essas inteligências e as mesmas produzirem novas criações com as características dos criadores que foram utilizados para treiná-las. Algumas das empresas que criaram essas tecnologias já estão sendo processadas por tanto.

“Um tribunal federal pode decidir que a coleta de dados e o treinamento do modelo infringem direitos autorais, mas, como foi conduzido por uma universidade e uma organização sem fins lucrativos, é considerado uso justo. https://waxy.org/2022/09/ai-data-laundering-how-academic-and-nonprofit-researchers-shield-tech-companies-from-accountability/

No começo do ano passado fui selecionado com outros especialistas do direito autoral e de inteligência artificial, formando um grupo muito heterogêneo, para participar do primeiro curso sobre “Inteligência Artificial e Direito Autoral” do Instituto Observatório do Direito Autoral (IODA). Lá foram apresentadas as diversas formas e como cada país têm lidado com a questão da autoria e da regulação, e é bem complicado chegar a uma opinião afirmativa, visto que todas possuem seus prós e contras.

Algumas possíveis soluções para os embates entre artistas e plataformas podem ser bem básicos, como creditar os artistas e pagar para utilizar sua arte para treinamento. Não acredito que seja pedir demais. Até porquê, essas empresas estão recebendo rios de dinheiro: OpenAI recebeu $10 bilhões da Microsoft, Stability AI está captando com valor em $4 bilhões, e por aí vai…

Desenvolvimento

De qualquer forma, está tudo acontecendo muito rápido e vamos ter que ir nos adaptando para esse novo mundo que está surgindo, visto que as coisas não irão parar por aí e nem esperar a gente respirar como foi proposto pelo Future of Life Institute em sua carta aberta “Pause experimentos gigantes de IA: uma carta aberta“. Eles chegam a pedir intervenção governamental se a pausa no desenvolvimento não puder ser feita de forma rápida:

Portanto, pedimos a todos os laboratórios de IA que parem imediatamente por pelo menos 6 meses o treinamento de sistemas de IA mais poderosos que o GPT-4. Essa pausa deve ser pública e verificável e incluir todos os principais atores. Se tal pausa não puder ser decretada rapidamente, os governos devem intervir e instituir uma moratória. https://futureoflife.org/open-letter/pause-giant-ai-experiments/

A verdade é que mesmo que os principais players desse mercado topem algum tipo de mecanismo de freio, nada poderá impedir outros de continuarem e ainda mais, de fingirem que estão em conjunto, mas fazendo seus experimentos “por fora”. O próprio Elon Musk, que é um dos assinantes da carta aberta, resolveu criar uma nova empresa, a X.AI para bater de frente com a OpenAI.

Conclusão

O debate está quente e parece que ninguém sabe de fato para onde vamos, dado que as pessoas estão desenvolvendo um monte de empresas, projetos e experimentos em cima das inimagináveis possibilidades que a inteligência artificial generativa criou.

Alguns têm visões cataclísmicas sobre o assunto, como nascer uma Skynet (se já não existe e somos todos IA), e sermos todos dominados ou extintos; mas outros, como eu, têm visões mais otimistas em que as possibilidades são mais benéficas e que nos ajudarão a termos a qualidade de vida que merecemos.

Mas continuo curioso com o que você pensa. Deixe nos comentários!

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